domingo, setembro 10, 2006

Epigrama

Gregório de Matos e Guerra


Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.
Quem causa tal perdição?... Ambição.
E no meio desta loucura?... Usura.

Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.

Quais são seus doces objetos?... Pretos.
Tem outros bens mais maciços?... Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.

Dou ao Demo os insensatos,
Dou ao Demo o povo asnal,
Que estima por cabedal,
Pretos, mestiços, mulatos.

Quem faz os círios mesquinhos?... Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas?... Guardas.
Quem as tem nos aposentos?... Sargentos.

Os círios lá vem aos centos,
E a terra fica esfaimando,
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.

E que justiça a resguarda?... Bastarda.
É grátis distribuída?... Vendida.
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.

Que vai pela clerezia?... Simonia.
E pelos membros da Igreja?... Inveja.
Cuidei que mais se lhe punha?... Unha

Sazonada caramunha,
Enfim, que na Santa Sé
O que mais se pratica é
Simonia, inveja e unha.

E nos frades há manqueiras?... Freiras.
Em que ocupam os serões?... Sermões.
Não se ocupam em disputas?... Putas.

Com palavras dissolutas
Me concluo na verdade,
Que as lidas todas de um frade
São freiras, sermões e putas.

O açúcar já acabou?... Baixou.
E o dinheiro se extinguiu?... Subiu.
Logo já convalesceu?... Morreu.

À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece:
Cai na cama, e o mal cresce,
Baixou, subiu, morreu.

A Câmara não acode?... Não pode.
Pois não tem todo o poder?... Não quer.
É que o Governo a convence?... Não vence.

Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.


Poesia de critica a sociedade baiana do século XVII, poesia satírica que mostra todos os defeitos muitas vezes escabrosos da sociedade da época tais como as praticas das simonias pela igreja, a falsidade existiam entre das pessoas do alto estrato social, a justiça quase sempre injusta, a arrogância dos poderosos, a miséria existente na sociedade, entre vários outros problemas.

Agora após tais comentários e a leitura do texto, fica a pergunta para os poucos leitores que terão chegado até aqui, retirando-se os costumes típicos da época e que não existem mais hoje, o que mudou na sociedade brasileira e nas suas instituições dessa época para cá?Afinal a justiça é falha e muitas vezes corrupta, todos sabemos de escândalos em diversas religiões, os roubos ocorrem deslavadamente na política, então o que mudou?

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

presta atenção na acentuação e uma palavra que você acabou batendo na tecla errada,mas enfim deixando isso para lá,me recordo bem dessa poesia ;P.
Bom não chegou a mudar + a resposta se dá no próprio texto...é um grande círculo vicioso,"começamos" assim e "tendemos" a continuar,há esperança + é necessário em si coragem contra a correnteza.
;) comentário gigante.

segunda-feira, setembro 11, 2006 1:17:00 PM  

Postar um comentário

<< Home